Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
2022-06-25
Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
EPISÓDIO 3 DA SÉRIE A
A conturbada relação de uma aranha e sua mosca
Por Luiz Roberto Bodstein
25 de junho de 2022
Nicoleta Ionescu / Shutterstock
Na fase do domínio – representada pelo convívio diário ou frequente –, e sendo muito mais difícil sustentar as falácias que contava sobre si na fase anterior, o narcisista ainda continuará por um bom tempo tentando manter as mentiras de antes, numa tentativa ingênua de enganar quem agora se mostra próximo demais para separar, sem grandes dificuldades, ficção de realidade. Talvez seja esse o ponto mais obscuro e doentio de sua personalidade, pois que insiste em continuar se colocando como senhor absoluto de seu castelo de areia, como se pudesse impedir que se desfaça no primeiro sopro, visto que agora todos à volta já conseguem vê-lo como realmente é. O lado mais patético é vê-lo apegado com unhas e dentes a uma imagem transformada em pó, como que numa tentativa de impedir que sua vítima atual recupere a visão da saída ao desabar do castelo e a volta à realidade que, paulatina e inevitavelmente, começará a ser desvendada.
Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
2022-06-24
Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
EPISÓDIO 2 DA SÉRIE A
A conturbada relação de uma aranha e sua mosca
Por Luiz Roberto Bodstein
24 de junho de 2022
Radharani / Shutterstock
Dando continuidade à nossa análise comportamental de pessoas manipuladoras, como os portadores de TPN (transtorno de personalidade narcisista), é importante lembrar que estamos falando de indivíduos altamente inseguros, com profundos problemas de autoestima e que alimentam forte sentimento de inveja de tantos quantos se percebem realizados com as próprias escolhas no seu entorno. A explicação é que, pela sua ótica egocêntrica, estas surgem como parâmetros de comparação que dão ainda mais ênfase a tudo que eles não conseguem realizar. Daí sua permanente irritabilidade contra os que se percebem autenticamente felizes, pois que os deixam expostos em suas vísceras e sendo atacados na falsa imagem construída e na qual eles mesmos precisam acreditar, de modo a não sucumbirem à permanente sensação de fracasso por sua condição de vida.
Diga-se de passagem, essa “condição de vida” não precisa sequer se mostrar insatisfatória, em termos reais, mas o narcisista sempre a verá como muito aquém do que ele merece, pois sua baixa...
Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
2022-06-01
Aprendendo a lidar com portadores do transtorno de personalidade narcisista
EPISÓDIO I DA SÉRIE:
A conturbada relação de uma aranha e sua mosca
Por Luiz Roberto Bodstein
1 de junho de 2022
wavebreakmediamicro / 123RF
Um dos contatos mais complicados no plano dos relacionamentos é, sem sombra de dúvida, o estabelecido com pessoas manipuladoras, porque traz um “antes” difícil de ser evitado, um “durante” quase impossível de ser contido e um “depois” suficientemente desgastante para ser interrompido. Vamos tentar entender, uma a uma, essas dificuldades pela ótica da vítima de portadores de TPN, ou transtorno de personalidade narcisista que, a exemplo de uma mosca presa à teia de uma ardilosa e hábil aranha, não consegue se desvencilhar do ambiente pegajoso e potencialmente fatal em que foi envolvida, acabando à mercê de seu algoz que lhe suga tudo o que traz por dentro, deixando ao fim apenas uma casca vazia que passa a impressão de que sua vítima segue incólume e perfeita, como era antes de cair em suas garras:
Na primeira tentativa de se aproximar da vítima, o manipulador já tem muito claro pra si o que deseja, conseguindo vislumbrar, logo nos primeiros contatos, tudo...
Vivi minha infância em Campinas, SP, na década de 1960. Pensando em tudo o que é preciso fazer neste século 21 para se conseguir sobreviver matando um leão por dia, posso afirmar que eu e mais milhões de pessoas daqueles bons tempos — mesmo sem qualquer conotação de saudosismo — podemos ser chamados de “sobreviventes”.
Viajava de carro com meus irmãos todos soltos no banco de trás, e o caçulinha na frente com papai, sem cadeirinhas, cintos de segurança, airbag, muito menos GPS ou computador de bordo. Carro não tinha sequer “pisca-alerta” ou seta (sinal de dobrar era feito com o braço para fora!). Também saíamos de bicicleta de um bairro para outro sem capacete, joelheiras ou cotoveleiras. Eu e a molecada do Taquaral nos divertíamos esperando na esquina da Lotário Novaes que as enormes “jamantas” (como eram chamadas as carretas da época) atingissem o cruzamento da rua com a Azarias de Melo para deslizarmos com nossos carrinhos de “rolimã” por baixo destas, que subiam lentamente, gemendo ao peso de suas cargas. E ninguém jamais foi esmagado por uma carreta ao...
São tantos, tantos anos já passados, e da memória não me saem os olhos tristes de minha angustiada Julieta em intenso sofrimento, forçada a abandonar o desesperado e intenso amor do seu Romeu. Persegue-me a nítida lembrança dos olhares de dor que trocávamos, enquanto nossas mãos se procuravam na semiobscuridade da sala de projeção, sob os críticos olhares de nossas famílias que tão somente esperavam pelo encerrar do filme para poder levá-la para bem longe de mim.
Insiste nas minhas lembranças teu súplico olhar me pedindo para que não me afastasse de ti e te desse forças para resistir à pressão exercida para que me esquecesses de uma vez por todas… E do tanto que chorei quando não mais pudeste evitar sucumbir a tantos conflitos, tantos castigos impostos, tantas censuras sofridas tão somente por sentirmos aquele amor tão intenso, sem compreender a culpa que nos cabia por termos um passado de sangue comum correndo em nossas veias… Lembro-me do quanto tive que ouvir tal justificativa para aquela absurda proibição ao meu puro e inocente direito de...
Qualquer pessoa que faça uso frequente de avião sabe que as instruções de segurança de voo instruem pessoas acompanhadas de crianças para, em situação de emergência, colocar primeiro a máscara de oxigênio em si mesmas, e depois na criança. O mesmo se aplica aos salva-vidas de um navio em risco iminente de naufrágio. Já se perguntaram a razão dessa aparente inversão de prioridade? A explicação é bastante simples: se você for vitimado antes, as chances de que seu filho não sobreviva será substancialmente menor.
Transpondo essa lógica para o seu dia a dia, antes que qualquer socorrista tenha tempo para chegar até você, ou que consiga alcançar a unidade de atendimento para socorrê-lo numa emergência médica, você só tem a si mesmo para evitar que o pior aconteça. E isso se estende ao “personal” que contrate para cuidar de você de forma exclusiva, lamento dizê-lo. Se não fosse assim, chefes de estado nunca estariam em risco durante seus mandatos, já que se virem cercados de proteção é condição obrigatória.
Também é verdade que sempre lhe restará a opção de rezar...
Aexemplo do que me aconteceu pelo menos três vezes antes deste dia em que escrevo, muitos dos que agora me leem, possivelmente, já se sentiram vivendo o primeiro dia do resto de suas vidas. Isso costuma acontecer após algo que, inequivocamente, traça uma linha no caminho que nos chega como divisor de águas entre o antes e o depois. Só que um “depois” bem diferente de qualquer outro, devido à profunda transformação na forma como passamos a enxergar o mundo a partir de então, como quando sobrevivemos a um grande perigo em que muitos tiveram suas vidas precocemente interrompidas. A título de exemplo, citaria a mão que alcança algo em que se segurar no derradeiro instante do afogamento; aquele heroísmo que transforma em milagre o existir do qual já tínhamos desistido; ou a continuidade da vida após a enfermidade que já havia nos condenado à morte.
A percepção desses momentos, ao compararmos a visão do retrovisor com a estrada agora se estendendo à frente — percebida pelo para-brisas — é sempre grande demais para o espaço da...