“Não deu certo”. Eis uma afirmação comumente utilizada como referência a um relacionamento encerrado. Afirmações desse tipo partem da equivocada ideia de que as coisas precisam ser eternas. Caso contrário, é porque “não deu certo”. Ora! Não existe relacionamento fracassado. Existe é relacionamento terminado. Relacionamento que, quando se tornou disfuncional, foi prudentemente interrompido.
Nesse ponto, você pode estar questionando: “Mas isso não faz sentido! Por uma lógica antonímica, se uma coisa parou de dar certo, é incontestavelmente óbvio que ela passou a dar errado!”. Calma… e atente-se para o fato de que a abordagem aqui não se dá no campo semântico, mas sim na perspectiva que temos de relacionamentos e términos, comumente oriunda do mito do amor romântico.
O tão famigerado “final feliz” ainda é para nós sinônimo do “e viveram felizes para sempre”. Se nos fosse revelado que, alguns meses após o conhecido final, Cinderela se cansou daquela monotonia, pegou a sua parte da grana e resolveu dividir apartamento com as meias-irmãs, todo aquele amor vivido entre ela e o Príncipe perderia o valor para nós, pois só vale se for...
Como parar a ação: a comparação em tempos de redes
2021-07-09
Como parar a ação:
a comparação em tempos de redes
Por Alex Gabriel
9 de julho de 2021
Conta-se que certa vez um pai de família saiu madrugada afora em busca de trabalhadores para a sua vinha, acertando com estes o pagamento de uma moeda. Sendo muita a demanda, tal situação se repetiu por mais três vezes ao longo do dia, indo esse senhor às ruas a aliciar trabalhadores.
E eis que, à tarde, o generoso homem reuniu todos os trabalhadores convocados ao longo do dia para dar-lhes o pagamento devido, começando pelos últimos convocados para o serviço. Assim, vendo que o senhor havia pagado a estes uma moeda, os trabalhadores que haviam labutado desde a madrugada acreditaram que lhes seria dado pagamento superior. Qual foi a sua surpresa ao receberem, tal como os demais, uma única moeda!
Sentindo-se naturalmente injustiçados, esses trabalhadores questionaram o comportamento do patrão: “Peraí, o senhor está dando a esses homens pagamento equivalente ao nosso, sendo que trabalhamos ao longo do dia enquanto eles chegaram há pouco mais de uma hora?”. Ao que o patrão, pacientemente, responde: “Não estou a cometer com vocês injustiça alguma. Não foi o pagamento de...
A necessidade de expressar de maneira mais exata os nossos sentimentos, emoções, opiniões e afins é o que comumente nos leva ao uso de metáforas, que, em suma, são figuras de linguagem que produzem sentidos figurados por meio de comparações. É daí que surgem expressões como “saúde de ferro”, “fulano é um gato” e outras mais sutis como “fazer amor”, por exemplo.
O adjetivo “tóxico”, quando aplicado a uma pessoa, é também metafórico, vez que, na prática, uma substância venenosa, que produz efeitos nocivos ao organismo, pode ser tóxica, mas não uma pessoa.
Esse uso do termo é mais um modismo – como falar de empatia ou escrever “gratidão” nas redes sociais sem que haja real sentimento por trás disso –, e veio na mesma leva de expressões que, se por um lado revelam uma maior tomada de consciência, por outro evidenciam o quão profundamente fragilizada é a geração atual.
Vez que tudo é dual no mundo da matéria, o uso do adjetivo “tóxico” como qualificação de pessoas tem, naturalmente, o seu lado positivo. Perceba que, se partimos do princípio de que...