Daqui a pouco estarei rindo de mim mesma. Olhando meus cacos espalhados pelo chão com graça, com amor. Fitarei minhas partes com o carinho e a graça necessários para dar significado às sensações, mas sem negar o trajeto que fiz até poder dar risada agora. Ver com humor minhas rachaduras e desacertos.
Com olhos de quem descobre o amanhecer a cada nova chegada, estenderei alguns vazios pela casa, perfumando a rotina com óleos essenciais de maturidade e inocência. Orando aos orixás, firmarei compromisso com o silêncio, sem dispensar a chegada de cada aprendizado novo. De cada olhar fortuito e eterno em paralelo aos banhos demorados de cachoeira.
As águas que escorrem em meu corpo traçam o mapa das minhas curvas em completa consonância com o enredo de minha história. Desviam em algumas marcas que foram fazendo morada em mim ao longo do tempo, com o sentir de cada história. Elas contam os detalhes bonitos das vivências de outrora, como quem fica para não me deixar esquecer dos endereços que me importam. Lembram-me que meu corpo é um templo sagrado e único...
Osilêncio das matas reconta velhas histórias. O respeito às nuances, às sensações que o cheiro traz. É eloquente o modo como os discursos silenciados sentenciam nossas penas. Como a inércia frente ao sofrimento catalisa nossa falta de atitude frente ao novo. Somos jovens a ponto de envelhecer todas as esperanças, colocando em xeque uma inteligência universal que já manifesta seu risco de extinção.
Os vales colocados à mercê dos julgamentos parecem inaudíveis para os olhos despreocupados com outra coisa que não os seus. Os solstícios de umbigo têm colocado em dúvida as importâncias do coletivo e a sobrevivência da nossa terra. De quem é a responsabilidade sobre as águas e os terreiros distribuídos em povos marginalizados à beira dos rios poluídos? E os sorrisos enlamaçados de culturas inteiras que sofrem com a descompostura de uma política desigual e incapaz de amparar a periferia dos próprios interesses?
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Há de haver, no meio de todo o óleo distribuído entre as mãos sujas dos palácios, qualquer coisa que entoe o orvalho do nascimento comum a todos nós. Essa segmentação...