Sentada na cadeira, fralda branca no colo, uma pá de carda em cada mão, penteia e separa a lã em pequenos montes nuvados. Uma a uma, as pequenas nuvens de lã vão se amontoando ao lado, sobre outro tecido alvejado, prontas para serem torcidas, para girarem na roda viva do fuso. Há uma escuta. Um ouvir a lã e a carda. A intensidade do gesto depende desse ouvir. Ele regula a ação, ampliando o sentido do fazer. Há uma escuta. Ela é mais que ouvir. O ouvido ativo promove o gesto. Gesto da mão, do braço, ações de superfície, visíveis, reguladas pelo invisível da escuta. A fralda suja de ciscos. Pedaços de mato, carrapichos, espinhos, estrume. A fralda branca tingida de escuros. A lã compacta, abrindo-se ao ar e à luz, ganha volume e leveza. O corpo continua a gesticular, a ouvir, a regular a força da ação, sentidos abertos ao material, ao ruído da carda, à textura e densidade da lã.
A fibra bruta se solta da carda, voo leve de nuvem até o monte cardado. Há um silêncio. Uma calma...