Venho de uma família prática. Família totalmente feita de imigrantes. Meus avós chegaram ao Brasil fugidos da guerra que assolou a Europa, em busca de dias melhores e chances de trabalho. E trabalho foi o que encontraram.
Trabalharam na lavoura, na construção civil, nas famosas fábricas da época – os Matarazzo. Meu pai foi ajudante de pedreiro e até hoje não tem as digitais de tanto bater laje. Nós, crianças, tínhamos as nossas obrigações diárias. Aprendemos cedo a limpar a casa e a manter os estudos em dia. No final, a conta fechou. Deu tudo certo.
Tudo o que minha família conquistou em três gerações foi pelo trabalho e, principalmente, pela disciplina. Ninguém fala de frequentar grandes festas, de ter ido a shows históricos ou ter feitos grandes viagens. Permanecemos na disciplina, sempre dentro dos nossos limites.
E isso tudo é muito bom mas gerou um efeito colateral. A falta de senso de merecimento. Merecimento das pequenas coisas. Daquele café no meio da tarde, de um passeio, de uma viagem. Por muitos anos eu e minhas irmãs fomos as que queriam...